sobre deseducar

Nos últimos dias as redes socias estão a pulsar com aquelas merdas que pouco relevo tem na vida: ou são as cheias de Lisboa (que interessam tanto ao resto do país como as greves de metro da mesma cidade); ou a Jessica Athayde e a sua não gordura (nunca se falou tanto sobre uma modelo que come demais em relação às outras, nem tão pouco se deu tanta relevância a um assunto tão vazio, não fosse o mundo da moda vazio por si só); ou o Ébola e a todo o histerismo lançado pelos media de forma irresponsável (não digo que não deve haver prevenção, mas já passamos a linha da estupidez) – peço desculpa pelo excesso de parênteses, mas acabo de receber uma remessa deles e estava mortinho por usá-los.

O que me preocupa realmente, é o que diz Daniel Oliveira na sua página de Facebook: “O Ministério da Educação vai sofrer o mais brutal corte orçamental em todo o governo: 700 milhões de euros (11,3%) a menos. É o melhor resumo do programa deste governo para o futuro deste País.” (in facebook.com/danieloliveira.lx)

Como se não bastasse esta amena cavaqueira com a colocação de professores, que prejudica tantos os docentes, como os alunos, heis que surge mais um prego no caixão da educação. Um corte de 11% é gigante! GIGANTE! Acham que que qando uma conta sobe 1% é muito? Acham que quando a gasolina fica mais cara 1 cêntimo, isso modifica a nosso orçamento? Pois bem, um corte de 11% na Educação é assustador. Não bastava a justiça ser uma anedota e a cultura estar erradicada enquanto tutela governamental, mas agora dá-se uma machadada sem dó nem piedade numa das áreas mais importantes da estrutura social.

Gostaria de acreditar que estes míseros 700 milhões são uma espécie de excendente, que são dispensáveis e que serão aplicados em áreas mais relevantes. No entanto, a Educação parece-me uma área um pouco relevante, digo eu…

Em busca do centésimo macaco

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Acabo de ver um documentário intitulado “Collapse – The End Of The Age Of Oil”, que recomendo vivamente. Para quem acha que 82 minutos é muito tempo, e preferem ver um video engraçado que se tornou virar, aqui vão uns traços gerais daquilo que retive:

O mundo industrializado surgiu com a descoberta do petróleo enquanto fonte de energia. Detentores desta fonte, crescemos e multiplicamo-nos enquanto espécie humana. E quando digo que nos multiplicamos, não estou a exagerar. No espaço de um século existiu um crescimento sem precedentes na nossa quantidade, crescimento esse que foi à boleia do petróleo, pois dos seus diversos produtos as sociedades entraram novos produtos que facilitaram e ajudaram à expansão da espécie.

Os problemas inerentes a esta formula mágica são demasiados; apoiamo-nos num bem finito como se este não tivesse fim. E em breve pagaremos o preço por isso, é inevitável. E poderia ser algo leve, caso exitisse uma consciencialização global do problema, mas tudo indica que isso não irá acontecer.

Se na línguagem do cristianismo o Apocalipse é visto como “A revelação”, na realidade assitiremos muito provavelmente apenas ao colapso da sociedade como a conhecemos (e podemo-nos prender aqui um pouco nas semelhanças entre Apocalipse e Colapso). Na sequência dessa futura destruição social, permitam-me aqui introduzir uma ideia muitas vezes fantasiosa, mas que facilmente poderá ser concretizada perante uma rápida demosntração:

O Apocalipse Zombie é muitas vezes fruto de um virus estranho que transforma os mortos em corpos sedentos de carne fresca, viva. Regressemos então ao nosso colapso social, em que, como o desaparecimento do petróleo e subsequente estilo de vida, nos veremos privados da abundância de comida, água potável e outros bens inerentes à nossa condição. Além do comportamento violento e selvagem que poderemos esperar (caso não nos preparemos enquanto sociedade), não me parece improvável que estes restante desesperados, que já não sabem sobreviver sem as comodidades com as quais nasceram, recorram a canibalismo. Eu sei, estou no mundo da fantasia, e assim espero que seja esse o lugar deste cenário. Mas quando vejo pessoas a tropelar outras porque cerveja está em promoção, ou porque saiu uma nova playstation, este cenário não me parece em nada fantasioso.

O mundo está de facto doente, e a cura somos nós. Nós somos o sistema imunitário que pode evitar o colapso social, mas somos também o virus. Os produtos derivados do petróleo para criar pesticidas destroem o solo, outrora fértil com o sistema de rotatividade. Porque o imperativo é plantar rápido e produzir mais rápido ainda, esquecemo-nos que cuidar é mais importante ainda. Queremos andar tão depressa, que só nos podemos despistar nesta estrada cheia de óleo.

Dizer que não é necessário esperar por catástrofes naturais, ou meteoritos e demais versões do final do mundo. Nós cometeremos o nosso próprio apocalipse, seremos o nosso próprio fim, depois de ferir o mundo sem pudor, depois de matar sem consciência, cometeremos o suicidio sem ter noção de o fazer.

Haveria muito a dizer, mas o documentário dirá muito mais e muito melhor que eu.

Convido o leitor a ver o documentário e ouvir as palavras de Michael Ruppert, e talvez você seja aquele centésimo macaco necessário para fazer a mudança (é preciso ver para perceber, lamento)

Luta contra os cancros

Amanhã, dia 4 de Fevereiro, assinala-se o “Dia Mundial da Luta contra o Cancro”, que ao contrário do artigo que escrevi há dias, não é um Dia Mundial ridiculo. Faz algum sentido alertar para uma doença cujas causas do aparecimento tem tanto de óbvio como de misterioso. Pode-se dizer que o cancro é uma doença altamente democrática: tanto surge em pessoas que não tem cuidado nenhum consigo, como aparece naqueles que levam um estilo de vida altamente invejável.

Terão lugar inúmeras iniciativas com vista a alertar a população para esta doença terrível, e muitos assistirão, enquanto acenam com a cabeça, pois este é um dia que faz sentido. Largos são os exemplos de pessoas que convivem com alguém que teve a doença, sabem bem que custa (tanto para o paciente, como para os acompanhantes). Mas muitos mais acharão que a luta não é nada com eles. Talvez no dia em que lhes tocar seja, mas até lá, não será certamente. E não falo agora de alertar, mas sim de alterar hábitos de risco.

Longe de mim dissertar sobre um tema tão amplo de uma forma assertiva. Falta-me o tempo para pesquisar todos os estudos, todas as opiniões, sondagens e debates. Tento estar alerta à informação que vou podendo consultar. Façam o seguinte exercício: vão à dispensa, peguem em 3 coisas e vejam os ingredientes. Pesquisem aqueles que não fazem ideia do que poderá ser (um exemplo clássico são os “E’s”, E451, E376… estou a inventar E’s… acho eu).

Somos bombardeados com estudos de alimentos que fazem mal, ou que estão carregados de substância cancerígenas ou “possívelmente cancerígenas”. Para mim, o possivelmente chega bem. Se querem fazer parte da luta, não podem esperar que os laboratórios desenvolvam curas. Se é disso que estão à espera, se acham que essa é que é a luta a travar, estão bem fodidos. A luta é diária, e travada por cada um, por escolhas que fazemos diariamente. E mais do que apenas “O Cancro”, devemos estar dispostos a combater “Os cancros”. Essas ideias preconcebidas que nos impedem de ser mais. Essas forças que nos prendem, quando nos é exigida acção. Eu sei que estou a misturar temas, mas acho que mais do que chamar a atenção para uma coisa, é melhor quando se consegue fazê-lo para outras também. O que se perde em especificidade, ganha-se em abrangência.

Existem muitos cancros, mas os de índole social são para mim os mais trágicos. Porque esses florescem do pensamento, da certeza, da convicção, da razão. Não estão abertos à discussão. E é esta ideia que quero lançar aqui. Mais do que um dia de Luta contra o Cancro, enquanto entidade abstracta, proponho um dia de Luta contra os cancros, os nossos e os dos outros. Será absurdo considerar que a apatia perante algo, não é um cancro? Que esperar que alguém resolva o problema que é também ele nosso, não é um cancro? E mesmo não sendo, se existe a probabilidade de o ser, porque não fazer algo em relação a isso? E se mesmo estando nós imunes a esse problema, se ela afecta alguém e nós podemos ajudar, porque não o fazer? Deixo isto no ar para reflexão e até discussão.