Sobre a cegueira

Hoje saí de casa apenas para me deparar, logo pela fresquinha, com uma situação caricata. Numa esquina, num passeio largo, estava um camião de obras. Como de costume, para fazer uma coisa simples (aparentemente), estavam lá seis trabalhadores e um polícia (vulgo, estátua fardada). Sim, é injusto para um polícia usar o seu tempo para observar 6 pessoas a colocar alcatrão no chão, mas à falta de entertenimento, poderia sempre ir falar com o seu colega que está sempre à porta do Mini Preço e olhar para ontem.

Mas adiante. Estou prestes a chegar ao local, quando sai um cego acompanhado de uma senhora do prédio ao lado de referido cenário. Ao sentir o camião no passeio, o senhor começou logo a protestar: “isto vai ficar aqui, é?” (e outras coisas que mal ouvi). E pronto, passou o cego por parvo, com 9 pessoas a ver o seu descontentamento e a ouvir o ridiculo que era o seu protesto. Lá explicaram e acalmaram o senhor. No entanto, isto é o reflexo de algo maior. Se o cego passou por parvo, porque se passou com uma situação que era justificada, será muito provavelmente porque já levou com muito parvos, idiotas e cretinos que estacionam em passeios e bloqueiam completamente (ou em grande parte) a passagem dos peões. O cego conhece bem a obra dos idiotas do dia a dia, foi e é vítima da estupidez daqueles que veem bem, mas tem vista curta. Daqueles que só querem estacionar, e são cegos ao incomodo que causam aos outros.

O cego não tem culpa, reage da mesma maneira porque não vê quem são os idiotas de serviço. E paga o justo pelos pecadores.

Os cegos que veem são assim mesmo. Conseguem ver tudo à sua volta, exceto as suas ações perante os outros. E por isso refiro um desses exemplos, passado dois dias antes.

Num cruzamento, como acontece tantas vezes, os carros passaram tarde no semáforo, ou contavam que a fila à sua frente avançasse, e ficaram a bloquear uma faixa de rodagem, aquela em que o sinal ficaria verde em breve.  Resultado: tornaram intransitável o trânsito para aqueles que agora poderiam avançar, não tivessem carros como obstáculos a tapar o caminho. Um senhor que estava no carro a bloquear a faixa, protestava a altos berros com os condutores da frente, que estavam impedidos de avançar pelo clássico sinal vermelho.

O senhor berrava, protestava, atribuindo a culpa a todos os que estavam à sua frente. Mas quem estava mal era ele. O errado era ele, o que clamava ser injustiçado.

Somo todos um pouco assim, cegos pontuais, idiotas do momento. E o pior cego, é o que não quer ver. É o que não vê que a culpa é sua, que o idiota é ele, e não os outros.